thedoghits fictions
A PORSCHE
Tião era o ladrão de carros mais bem-sucedido da Vila Sacramento. Começou pé de chinelo quando ainda tinha 14 anos, roubando umas bicicletas Monark dos pivetes de sua vizinhança. Agora, aos 19 anos já havia surrupiado cinco Gol, dois Pálio, um Vectra e um Astra. Nunca tinha visto uma Porsche em sua frente. Imaginar roubando uma menos ainda. Mas era sim, seu sonho de consumo. Tião usava o dinheiro que ganhava do ferro-velho para garantir a comida de seus dois guris: Rivaldo (sete meses) e Romário (três anos); e pra sua jovem esposa/namorada, Luci. Com o dinheiro faturado com as peças dos carros já tinha comprado vários eletrodomésticos pro seu barraco no Bico da Coruja, uma bocada do bairro.
Estava perturbado com esse modo de vida. Tião estudou só até a oitava serie, e tinha prometido para si mesmo que iria parar de furtar o sustento alheio que também tinha sido conquistado com muito suor. E lá foi Tião pegar o busão 330, com destino ao Balneário. Desceu em frente ao colégio São Francisco, havia decidido fazer a matricula para entrar no supletivo. Na seqüência, tentaria arrumar um emprego digno no centro também.
Por ironia, em menos de um segundo tudo mudou. Tião nunca tinha visto uma Porsche em sua frente e justo naquele instante o sonho de consumo do rapaz estava a menos de dois metros de seu nariz. Vermelha, polida, ela era um espetáculo para os olhos de qualquer apaixonado por automotor. Desde moleque, sonhava com um modelo como aquele, quando então colecionava um álbum de figurinhas de carros esporte, o único presente que recebeu do pai, o mesmo que abandonou a casa quando Tião tinha dez anos.
A Porsche estava com a porta aberta e, pasmem, com a chave no contato. O malandro enlouqueceu, aquilo pra Tião era extremamente tentador. O boyzinho dono do poçante deu bobeira enquanto tomava um sorvete no calçadão da praia, de xaveco pro lado de uma loira que passara a pouco, andando de patins. Era o momento, era a sua cara.
Faltava pouco tempo pra secretaria do supletivo fechar pro horário de almoço. “Foda-se! O cara vacilou, vou é dar uma volta com esta preciosa”, não titubeou. Em menos de dez segundos, Tião já havia dado a partida e saiu como piloto de Fórmula Indy correndo pela avenida principal. Enquanto se lamuriava por ter feito a escolha errada ou não, enganava-se. “Vou dar só um rolê, maluco. Levo-a de volta pro boy daqui a pouco”, refletiu.
Quanto mais acelerava, mais Tião se apegava ao poçante. Cada curva da cidade que ficava para trás era um orgasmo para o meliante. E corria cada vez mais, alucinado, aquém do que ele imaginava, nenhuma sensação era igual aquela que passava naquele momento. A Porsche voava tão rápido na estrada que a essa altura uma viatura já perseguia Tião na mesma balada. Não deu tempo de desviar de uma pedra, perdendo a direção já perto do penhasco. Apagou sorrindo, debruçado no volante, naquilo que mais gostava.
No mundo material há sonhos e instintos que nenhuma dignidade é capaz de interpelar.
8/14/2004
8/11/2004
The Dog Hits On The Road
Porto Alegre é uma cidade deveras charmosa. Tem jeito de metrópole, jeito de interior, jeito de litoral. O estranho pra mim foi encontrar uma cidade quente e passar parte da semana suando em bicas. Pra queimar minha língua, o final de semana foi de chuva e temperatura abaixo dos cinco graus. Quem gosta de muito frio é pingüim.
A região da Lima e Silva é agradável, o point dos baladeiros gaúchos.O centrao e agitado como o de São Paulo, só que é limpo. Dando uma garimpada pelos sebos da vida, achei um Beatles – Revolver, biscoito fino, baratinho (alias, aceito doaçoes para terminar minha coleção de vinis).
Canoas tem clima sereno, de tranqüilidade. Lá há bairros com casas maravilhosas, vintage, estilo colonial ou sei lá, algo desse tipo. Ah, dias aconchegantes, se todos fossem assim...
Se aqui eu encontro uma pizzaria a cada esquina, lá existem lanchonetes espalhadas por todo canto, as chamadas “XIS”. Um senhor lanche, o MC deveria aprender como se faz fast food. Sem contar no astral das pessoas, no sotaque ligeiro, e bom pra saude rachar o bico ouvindo musica gaudéria.
Peculiaridades: Avenida é faixa, Misto Quente é torrada, pessoa metida é Magal, e o pão francês se chama Cacetinho, hahahaha, etc.
Agora, vamos ver quanto tempo demora pro primeiro bozo entrar nos comentários perguntando quantos cacetinhos eu comi no Sul, hehehehe